Aqui, do lado de cá, aquele amando.
Alguém resolveu me machucar.
Uma ferida que, talvez, não vá cicatrizar.
Será que o corte sempre estará sangrando?
Com as mãos sujas, eu busco o corte tocar.
O intuito é reconhecer sua profundidade.
O resultado é me torturar.
Quem faria consigo essa insanidade?
A dor leva-me a buscar sua causa.
Encontro-na e desejo, momentaneamente, causar o mesmo horror que esse corte sujo, sangrento e profundo causa em mim.
Olho nos seus olhos e lhe pergunto:
Com qual arma me feriste?
No perdido dos olhos que, em outra hora, jurei ser cura.
Eu me perco ainda mais buscando respostas que meu algoz não tem.
Repito:
Com qual arma me feriste?
Ele não sabe responder a pergunta.
O corte pulsa e arde como se soubesse uma resposta.
Então, levo minha mão até o rasgo e como em um pedido da pele dilacerada, eu toco, novamente, a ferida.
Como um ser com vida,
Ela me responde:
A arma foi o amor, era sua, não dele.
A carne que em ti sangra foi resultado de tua própria carne.
O sentimento que nasceste em ti foi o punhal que lhe feriu.
Tomá-lo de volta é necessário, mas não para apunhalar seu algoz.
Afinal, sua ingenuidade sabe que ferir aquele que carrega o punhal é ferir-se.
O corte nele é em você que sangra.
Entenda, menina,
O amor é assim, uma arma cruel o bastante que fere a própria carne e protege o malfeitor.
Entenda, menina,
Eu sou o corte que permitiste-te.
Eu sou a dor que causara ao dar-se.
Eu sou a ferida aberta que você teima em não deixar curar.
Eu sou um tumor maligno que desejas conservar.
Eu sou a forma que expele o seu sangue escorrendo asqueroso e quente como um pedido de socorro.
Entenda, menina,
Quereres poder amar, porém, é amar que irá te matar.